Aqui não se vem para ficar sem cabelo nas mãos de um artista da tesoura, as únicas franjas que encontramos são daquelas que a Maria da Música no Coração usaria para fazer acabamentos à roupa da criançada loira.
Aos olhos de um freguês mais distraído, a Franjarte é uma retrosaria. Mas isso era o que mais faltava! Pois esta mítica lojinha é a única sirgaria e passamanaria da zona, que é como quem diz, vende borlas (passando a contradição), cordões, franjas, puxadores e galões.
E quem vende tudo isto é a simpática D.Custódia, a quem chamam na brincadeira de “sirgaita”. É ela que há 35 anos resolve os problemas de quem precisa de fazer o cortinado, embelezar o maple e embonecar a almofada. Nos intervalos das vendas, lá a encontramos a fazer os seus registos, decorando os seus santinhos, emoldurando os seus bentinhos.
É a esta loja de vão de escada, que se encaminham desde 1945, condes e condessas à procura do dourado e do grená que faltam para devolver a antiga glória aos palacetes, mas também é aqui quem vêm as fadistas buscar as franjas pretas para remendar os xailes da avó. D.Custódia ainda se lembra de quando cá entrava a Hermínia Silva e dizia com a sua voz tudo menos Mariquinhas “Então rapariga, como estás?”
São estas ilustres memórias que ficam guardadas no livrinho de recordações verde, escondido por baixo do balcão. E é por estas e por outras que a D.Custódia bem pode puxar pelos galões. Tem lá material para isso.




















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