
Largo do Rossio, Nº 21 - Lisboa
(mapa)
No tempo em que se escrevia Cintra com C, foi inaugurada no Rocio (também era assim que se dizia) por Júlio Cruz, a Tabacaria Mónaco. Contam os ardentes folhetins da época que, só no dia da inauguração (1 de Agosto de 1894), se juntaram ali cerca de 4000 senhores de chapéu alto e bigode (mais que na abertura do próprio parlamento, o que não choca por aí além o português suave).
A pena dos jornalistas não fazia floreados sobre a efeméride, fazia autênticos bouquets que não resisto a copiar… Ora lê-de bem…
“A Mónaco abre hoje n’um pé de sumptuosidade que faz o seu parenthesis de luxo nesse arruamento esquerdo do Rocio.”
Era aqui (nesse parenthesis) que vinham, e vêm ainda, os que se dão à cavaqueira, depois da leitura dos jornais, enquanto fumam o tabaquinho, a cigarrilha e o bom charuto. Mas além da fama, a Casa Mónaco, era e é um sítio cheio de segredos (voltemos à deliciosa imprensa) …
“O tecto é um fresco de Ramalho, bordado num desses momentos azues do rien faire.”
Apesar da expressão ser francesa, eu cá desconfio que isso do rien faire só pode ser coisa inventada aqui na pátria. De facto, o tecto em abóbada mostra, ainda hoje, um belo lusco-fusco rasgado por andorinhas loucas, típico das tardes de Verão ali no Adamastor. Mas não se pense que o pintor António Ramalho foi o único personagem do famoso Grupo do Leão (e não é eufemismo para Sporting) que espalhou talento pela Mónaco, vejamos…
“Os azulejos são uma humurada de rãs fumistas.” Que é como quem diz, umas fábulas à La Bordallo Pinheiro (vindas directamente das Caldas), onde garças e rãs lêem jornais, dançam, brincam às touradas e fumam quase tudo. Também do Bordallo são as andorinhas nos fios telegráficos. Fios telegráficos?! Sim, há que dizer que a Mónaco tinha, para euforia da clientela mais sofisticada, um dos primeiros telefones ligado à rede geral…
Mas as pérolas continuam. Para além do busto do príncipe do Mónaco, há três estatuetas em cima do balcão. A mais curiosa fica no meio e retrata uma velhinha que leva na mão uma candeia (que antigamente tinha sempre uma chama para se acender o cigarro), acompanhada por um gatinho, cuja cauda é uma pequena guilhotina para se cortar o charuto… Disto, meus amigos, não se apanha no IKEA! E o melhor é que a Mónaco tem ainda uma bica (agora seca) que chorava águas de Cintra, de Caneças e de Moura, o que dava um jeitão quando não havia, entre nós, a arte da canalização.
Além desta caixinha de surpresas, podemos ainda encontrar o melhor da imprensa nacional e estrangeira, variados souvenirs e todos os acessórios inerentes ao vício do fumo (experiência, aliás, tão mística que até às pontas chamamos beatas). Para nos receber e bem, lá está o atencioso Sr. Carlos Oliveira (o patrão) e o Sr. Tomé Repas, sempre a sorrir atrás do balcão (que ainda se escreve com C, como nos bons velhos tempos).





























LINDA A LOJA!
ResponderEliminarBOAS FOTOS.
Olá Mami, já nos encontramos algumas vezes. Sou amiga da Marta Corvo e da Inês Castro. Queria dar-te os parabéns pelo teu site. adoro! Acho que seria talvez interessante se conseguisses ter uma versão em inglês... se eu fosse estrangeira em Lisboa adoraria tirar ideias para o meu roteiro do teu site!
ResponderEliminarbeijinho
(Maria) Inês Matos
obrigada freguesa inês, as traduções estão a caminho, a ver se até ao fim do mês ficam actualizadas =) beijinhos
ResponderEliminarMami, os meus Parabéns, esta loja é um tesouro! Adorei. Espero que tenham o bom senso de o preservar! Boas fotos também, gosto especialmente das de fundo, do chão e do balcão, muito boas.
ResponderEliminarParabéns pelo blog!
Olá Mami,
ResponderEliminarEntrei por aquí como quem vai ao museu das nossa memórias. Esta cidade tem destas surpresas e encantos, muitas por redescobrir.Fiquei freguês. Gosto muito da abordagem dos textos e das fotos....
Carlos Caria
Quero só dizer que este blog é impecável!
ResponderEliminarVoltarei e isso é certo. :-)
caros fregueses,
ResponderEliminaragradeço muito as palmadinhas nas costas.
agora, toca a frequentar estas lojas que bem merecem =)
Mami, eu vivo na Holanda :) Tomara eu poder visitar essas lojas agora. Mas ainda em Junho andei perdida pelas ruas da Baixa a entrar nas lojas. Também vivi na Graça 5 anos e sou mesmo fã destes espaços e dos donos. Já foste à livraria mais pequena de Lisboa, nas escadas que dão a Alfama? Não sei quanto tempo levarias a fotografar 3 metros de loja (e não são quadrados), mas é um espaço que pouca gente conhece.
ResponderEliminarCompletamente fã deste blog!!!!
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