Diz-se que a Tendinha é uma das casas mais antigas do Rossio. Foi fundada em 1840 e afundada em destilações e fados. A Hermínia Silva cantava-a assim:
“Junto ao Arco do Bandeira, há uma loja, a Tendinha, de aspecto rasca e banal…”
Mas isso era antigamente. A verdade é que a Tendinha (para o bem ou para o mal) levou umas obras, há uns anos, e lá ficou com um ar mais actual.
Diz-se também que foi aqui que o grande Malhoa (o pintor, não o cantor) descobriu o célebre Amâncio (o cantor, não o jogador de futebol) que lhe serviu de modelo para o famoso quadro, “O Fado”. A verdade é que os fadistas não passavam sem cá vir beber inspiração. E a Hermínia continuava o hino… “és o templo da pinguinha, dos dois brancos da gimbrinha, da boémia e do pifão…”
E lá do pifão continua a ser porque, ao pé de inflacionadas Nicolas e Suíças, esta é a única esplanada onde ainda se consegue apanhar uma piela por uma bagatela. A Tendinha honra-se de continuar a praticar preços d’amigo, dos tempos em que o Alfredo Marceneiro aqui vinha comer a sua sandes de torresmos (ou quase).
Diz-se que os artistas “vinham já grossos das hortas, caturrar nas horas mortas e ouvir o fado cantar”. A verdade é que foram substituídos por nova clientela que já se habituou a aqui vir comer a sopinha da avó, as sandes (em carcaça lisboeta) de presunto ou queijo fresco, de panado, filete de pescada ou bifana e ainda o pastelinho de bacalhau, o croquete e o rissol acompanhados (obviamente) pela cerveja ou pelo tintol.
Diz-se ainda que, para servir estas iguarias, cá estão o Sr.António e o Sr.Alfredo, a aturar com simpatia os fidalgos e os fadistas, os bêbados e os artistas, os liberais e os absolutistas, os locais e os turistas e a verdade é mesmo esta - passados mais de 200 anos a Tendinha continua a ser “na história da bebedeira” e na história da capital, bem mais que uma tasquinha, um autêntico “padrão imortal”.















Sem comentários:
Enviar um comentário