
Mal sabia o super conservador e romântico poeta Feliciano de Castilho (aquele que andou às turras com os jovens escritores da Geração de 70, Antero, Eça e por ai fora…) que a casa onde nasceu iria ficar conhecida por ter uma das tascas mais castiças da cidade.
O Estádio não tem néons nem reclames e fica num daqueles passeios tão largos que andar de mãozinha dada é uma roleta russa, mas quem é da casa vai lá dar de olhos fechados.
Abriu em 1901 (lê-se mil nove e um) e desde então muito pouco mudou. É aqui que vem todo o tipo de cliente comer daquela comida que se bebe, ver o telejornal, discutir o Conceito, treinar anéis de fumo, fazer estágio antes de uma noitada e devorar a carcaça mista de presunto e queijo. Para se pedir uma procissão de cervejas só tem que se chamar o Sr.Ruben, que deambula por entre as mesas e a velha caixa registadora (nada de tocar se não quer aprender o verdadeiro português de Camões). Atrás do balcão fica o Sr.Fernando, é a ele que se vai pedir papel higiénico, quando a saudade aperta.
Para além dos quadros, dos pormenores românticos do tecto, dos posters de eventos (olha o Tiago vai tocar não sei onde) e da interessantíssima fauna, não se pode perder a máquina de pinball do tempo do “Justiceiro” e a incrível jukebox, que de vez em quando entra em despique com alguém mais fadista e faz uns remixes do Embuçado até se ir lá dar um jeitinho.
E quando batem as duas badaladas (naquele relógio que nunca sai das 5:45) acaba-se a pândega (quando acaba!). Até porque não se quer acordar a freguesia, sobretudo certos poetas românticos com mau feitio.


















Fantástico blog y maravillosas fotografias....eu adorei!.
ResponderEliminarFabuloso blogue. E estas fotos fazem-me lembrar as excelentes noites que passei no Estádio.
ResponderEliminarmuito bom..!! adorei o texto e as fotos (de quem são, já agora?) ...saudades do velho manel, sempre resingão, a aviar cervejas por entre as mesas. só por causa disto, um dia destes volto ao estádio...
ResponderEliminarora o texto e as fotos são aqui da arqueolojista =) o sr. manuel lá continua rezingão mas cheio de coração! toca a frequentar o sitio! aqui somos nós que jogamos :p
ResponderEliminarmuitos jogos em casa... joguei neste estádio mais de 20 anos seguidos. muitas memórias do sr manel (que infelizmente já morreu), do sr pena (que infelizmente também já morreu), sobrando o dono, sr conde, e, mais recente, o sr fernando, sereno, aloirado, seco mas doce, como um bom tawny velho.
ResponderEliminaro sr manel, salazarista, era a alma do estádio, era o porteiro (depois das 2...), era o segurança, era o barman, era o machão castiço, quasi parecia o dono. mas também era o mais irritável empregado de mesa que conheci. fervoroso no ataque à medioLcridade política, já falava em 1992 como se estivesse já em 2012... :) um homem de visão, percebia muito bem o nível de corrupção política / económica / social em que já estávamos a mergulhar... numa linha medina carreira, sem carreira e assumidamente salazarista. era tão saudoso que dividiu a sala em duas partes. escusado será dizer que ele ficou com o lado direito da sala... restando para o seu colega de sempre, o sr pena, o lado esquerdo, já que era um comunista também assumido, inclusivamente comprador do jormal Avante, sempre dobrado e arrumado junto à caixa registadora, a da fotografia... era um fartote de rir aquela dupla quando se pegava ! acho que um dos grandes dramas do sr manel era o facto de ser muito parecido fisicamente com o álvaro cunhal. imaginem a contradição que era naquela cabeça ! mas apesar de tudo, acho que era ainda isto que o aproximava mais da esquerda...
sempre na competição política saudável e normal, por vezes um pouco viril, mas no final do dia os dois entendiam-se muito bem enquanto colegas, eram um exemplo de camaradagem. eu entendia-me muito bem com os dois e gostava muito dos dois. espero que estejam bem.
Quantas vezes ofereci 80 contos pela jukebox e
A fazer o contraponto do lado direito do está
Foram tempos giros, muita giros.